Arquivo para julho \16\-03:00 2009

“As rosas não falam”

Ela sempre me perguntava o que eu entendia por amor. Ao invés de respondê-la, perdia-me admirando sua beleza e só conseguia dizer: “Emociono-me só de olhar prá você! E vejo-a mais bela a cada dia que passa! Que pacto tens com o tempo, que só lhe deixa mais linda?”.

Ela me censurava porque eu não sabia responder o que era o amor. E eu não me preocupava com isso. Queria o tempo para aprender a encontrá-la onde estivesse, para fazer-lhe uma surpresa, precisasse atravessar alguns metros ou milhares de quilômetros para isso.

Ela me dizia que eu não sabia o que era o amor. E eu sabia que precisava aprender o que seus olhos buscavam. Queria chegar primeiro que eles e presenteá-la com o que iria ver. Queria conhecer os pensamentos de Deus para saber o que a ela reservava, sem me interessar pela origem do Universo, nem qual o sentido da existência humana sobre a Terra.

Ela queria que eu lhe desse um conceito do amor. E eu já não tinha mais amigos para perguntar; nem o álcool para iludir-me com respostas trôpegas. Esqueci que abandonara a todos eles vivendo algo que eu não sabia explicar.

E sem essa resposta, de que adiantariam as rosas arrumadas e os mal-me-queres? E as graxas roubadas nos jardins e cercas? De que serviriam meus garranchos desenhados em pedaços de papel, tentando simbolizar declarações de amor? De que adiantaria perder-me embevecido no seu caminhar? De que adiantaria oferecer ao Criador minha própria vida para que aquela dor infinita d’alma que a afligia se fosse para sempre?

De que adiantaria parar minha vida, meu mundo, o Universo, simplesmente para ver seu rosto sorrir, se eu não tinha a resposta para uma pergunta tão banal?

Mas eu não sabia o quanto era importante para sua alma auditiva aquela definição. Achava que gestos, atos e ações eram mais importantes que as palavras. Mas há almas que apenas escutam; outras que apenas vêem; outras que apenas sentem. Há almas que jamais se complementarão. Não porque sejam incompatíveis, mas porque querem que o amor só tenha o seu jeito.

Eu dizia: “Veja!”.

Ela dizia: “Quero ouvir-te!”.

E assim murcharam minhas imagens mudas, como flores jogadas no lixo, após enfeitarem um belo salão vazio, onde só o eco das palavras podiam dar sentido.

Da próxima vez, meu Caro entregador de flores, faça o serviço completo! Lembre-se que as rosas não falam!