Em construção…

“Que estou fazendo aqui?”, perguntava-se ela, enquanto se acomodava em um dos bancos da estação de trem. Era quase fim de tarde. Fazia calor. Sentia-se desconfortável ali, mas não conseguia ir para outro lugar.

Avistou-o ao longe. Carregava uma mochila – a de sempre. Camisa polo, calça jeans, uma botina de couro e um olhar na linha do trem, como a medi-la…de onde vinha, para onde iria…

Ela pensou que talvez pudesse vê-la ali. E não queria isso (ou era melhor que não). Levantou-se e foi para o outro lado da cerca. De lá continuou a observá-lo.

Ficou curiosa quando o viu agachar-se e, por algum, tempo, ali ficou, como se observasse algo que lhe prendia a atenção. Depois, viu-o retirar o celular da mochila e tirar uma foto do que observava.

O barulho do trem assustou-a. Pareceu tirar-lhe abruptamente de algum sonho. Ele também se assustou. Para ambos, era um sinal. Um mesmo sinal com significados diferentes.

Ela não se cansava de perguntar o que fazia ali. Não eram amantes. Nunca haviam se tocado como homem e mulher. Amigos? Sim. Achava que sim.

(…) (em construção)

O trem partiu. Se ela pudesse vê-lo, perceberia que se esforçava para que as lágrimas não denunciassem uma dor tão forte.

Ela voltou para dentro da estação. Enquanto caminhava, ouviu o som de uma mensagem que chegara ao seu celular. Estava mais curiosa para que ver o que tinha detido a atenção do homem que acabara de partir. Retirou o aparelho da bolsa enquanto chegava perto do local onde ele estava.

Abriu a mensagem. Havia a foto de uma flor encrustrada entre os gravilhões e os dormentes da linha do trem. Pequenina. Amarela. E ali estava ela, a pequenina flor, a alguns centímetros da plataforma.

Noutra mensagem, estava escrito:  “Quantas chances…”

(…)

A noite cobriu a estação. Aos poucos, os vendedores ambulantes foram indo embora. Um guarda perguntou se ela estava sentindo alguma coisa, ou se precisava de algo.

– Não, moço! Obrigada! Não preciso de nada!.

– Está tarde! Já vai fechar! Fica perigoso aqui. Só pivete, tudo drogado! Essas drogas estão acabando com tudo! – falava o homem enquanto a acompanhava.

– Meu carro está logo ali.

– Acompanho a senhora. Se der mole, já era! Não mexem comigo. Já me conhecem.

Ela agradeceu. Quando ia abrir a porta, ele apressou-se e a abriu para ela.. Depois, fechou-a, suavemente, como faria um chofer. Sorriu e acenou para ela. Esperou que desse partida e que pusesse o carro em movimento.

Buzinou-lhe em agradecimento.

Ele acenou novamente e se foi, como faria um anjo da guarda de estação.

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